Ainda motores da economia mundial, os países emergentes enfrentam uma coleção de crises e obstáculos que lança dúvidas crescentes sobre seu desempenho futuro.
De acordo com as mais recentes projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional), a diferença entre o crescimento econômico dos países remediados e pobres e o do mundo rico cairá neste ano ao menor patamar desde o início da década passada.
Encabeçado por China, Índia, Rússia e Brasil, o primeiro grupo tem expansão estimada em 4,2%, no quinto ano seguido de queda.
Para os desenvolvidos, a previsão é de 2,1%, no terceiro ano consecutivo de melhora lenta. Considerados os dez emergentes incluídos no G20, o grupo das principais economias do mundo, todos apresentarão neste ano resultados piores que os de 2010. Na lista estão, além dos quatro gigantes, Indonésia, México, Arábia Saudita, Turquia, Argentina e África do Sul.
As expectativas podem piorar. "Os riscos de piora no curto prazo para as economias emergentes se elevaram", afirma documento do FMI preparado para o encontro do G20 encerrado neste sábado (5), na Turquia.
GUERRA
As mazelas variam em grau conforme o país. Os asiáti cos ainda mantêm altas taxas de avanço do PIB (ProdutoInterno Bruto); no outro extremo, Rússia, Brasil e Argentina amargam recessões -por envolvimento na guerra civil da Ucrânia, no primeiro caso, e por exaustão da política econômica, nos outros dois.
Mas há ameaças mais gerais, como a queda dos preços dos produtos primários de exportação, após o fim do ciclo de alta que impulsionou taxas recordes de crescimento na década passada, e a desaceleração da economia chinesa, que responde por 16,9% do PIB global.
"A ameaça da crise na China é uma mudança brutal, porque nos últimos dez anos ela tem sido a salvação da economia mundial", afirma Carlos Lançona, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas.
Os temores de um declínio mais agudo do PIB chinês -agravados pela falta de democracia e transparência no país- provocaram turbulências nos mercados financeiros nas últimas semanas. No dia 25 de agosto, o principal índice da Bolsa de Valores de Xangai fechou em queda de 8,46%, em dia que foi apelidado de "Segunda-Feira Negra".
Sabe-se que a China está gradualmente incentivando o consumo internado e deixando para trás o modelo que propiciou um crescimento vertiginoso do país até 2011, baseado em mão de obra barata, poupança, investimento e exportações.
A desvalorização recente da moeda chinesa sinaliza, contudo, que o país está enfrentando dificuldades para fazer essa transição.
CONSUMIR OU INVESTIR
"A China desvalorizou a moeda para retomar uma posição competitiva em relação aos EUA e, com isso, recuperar o crescimento", afirma Roberto Giannetti da Fonseca, economista especializado em comércio exterior.
Curiosamente, trata-se do movimento oposto ao do Brasil, onde anos de expansão do consumo das famílias e dos benefícios sociais levaram à escalada da inflação e da dívida pública, que agora o governo tenta conter.
Diferenças à parte, o fim da era de expansão acelerada -o PIB de pobres e emergentes chegou a crescer 8,7% em 2007- traz sequelas políticas e sociais para todos.
"Nos últimos anos, tivemos um cenário muito benigno de redução de desigualdade e aumento de renda. Aconteceu muito no Brasil, mas na América Latina também e afetou boa parte dos emergentes. A continuidade desse processo passa a ser questionada", diz Reginaldo Nogueira, coordenador do curso de relações internacionais do Ibmec.
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